Objetiva normal – comprar ou não comprar?

Há vinte anos ninguém poderia mencionar a frase “Não compre uma lente 50 mm”. A justificativa é que praticamente todas as câmeras, quando compradas,  traziam em seu corpo uma objetiva normal – a lente 50 mm. Mas como tudo mudou e as câmeras de hoje não são mais as analógicas – NÃO COMPRE UMA LENTE 50 MM! Porém, se você tem a certeza de que tecnicamente precisará dela, ou seja, que a sua atividade fotográfica já revelou esta necessidade de forma concreta, COMPRE A SUA OBJETIVA NORMAL sem qualquer risco de arrependimentos visto que há uma necessidade já identificada. Agora, se você está começando a se envolver com o universo da fotografia ou já é um fotógrafo de família, de viagens turísticas ou pretende se tornar um profissional bem sucedido do ramo de reportagens, ainda que seja na área da fotografia social, pesquise, informe-se, justifique a sua compra.

 

A lente 50 mm – considerações

 

  • As objetivas fixas, como a que abordamos neste artigo – a normal, não nos permitem abrir ou fechar o ângulo de abordagem sobre a cena sem que tenhamos, para isso, que nos mover andando para frente ou para trás considerando que seu ângulo de visão é fixo. Em uma reportagem dinâmica ou um casamento potencialmente mais lento, se deslocar fisicamente muitas vezes se torna um problema ou quase impossível em algumas situações de pouco espaço ou tempo para fazê-lo. Por este motivo, a 50 mm não seria a objetiva recomendada para um fotógrafo que necessitará alterar repentinamente sua abordagem angular sobre a cena. Repare este profissional em campo e perceberá que sua lente é de tamanho destacado e longa – na maioria das vezes, uma teleobjetiva bem ampla no que se refere sua distância focal;

 

  • A 50 mm, a lente conhecida como normal, oferece um ângulo de abordagem muito familiar, comum à percepção do olho humano tornando o resultado do ato fotográfico menos interessante e previsível, sob o ponto de vista angular, por conta dessa perspectiva de abordagem mais comum. E, se você utiliza uma câmera com fator de corte do tipo APS-C, as câmeras identificadas como cropada, não estamos falando de uma objetiva normal, mas de uma meia tele visto que seu sensor digital (CMOS) é de formato menor alterando sua distância focal para um valor superior ao da descrição da lente em um fator que pode variar entre 1,5 e 1,6. Assim, referir-se à objetiva 50 mm como uma objetiva normal é no mínimo um erro. Porém, ainda é uma objetiva fixa e por isso de abordagem angular fixa, limitada e que requer um nível de uso bem específico, pontual;

 

  • As câmeras “digitais” utilizam um sensor que substituiu o filme no processo de obturação da imagem. Este sensor quando acionado, produz eletricidade estática. Isso significa que qualquer impureza que esteja no corpo da câmera, muito provavelmente será sugada e fixada sobre o sensor provocando sua visualização em todas as fotografias produzidas após este fato. Este acontecimento é relativamente comum e, mais cedo ou tarde, acontecerá com sua câmera ainda que você evite substituições recorrentes de objetivas. Porém, na medida em que você, repetidas vezes, expõe ao tempo o corpo da câmera sem uma objetiva, seja por necessidade de troca de uma lente ou simples falta de planejamento operacional, a possibilidade de alguma impureza entrar o corpo da câmera e se prender ao sensor na hora em que uma imagem for obturada é muito grande. Por este motivo, quanto menos se promove a troca da objetiva, sobretudo em campo aberto, menor será este risco. Contudo, se você insiste em utilizar a sua lente 50 mm, este fato vai acontecer mais rapidamente considerando que você, necessariamente,  precisará trocar de objetiva porque a sua fixa não será útil durante todo o tempo de uso em uma reportagem social, por exemplo. Por isso, quanto menos vezes for necessário trocar a objetiva, menor será o risco de se sujar o sensor da câmera. Podemos concluir que o melhor investimento para quem trabalha com reportagens, é investir em uma lente “zoom” com uma variação angular adequada ao trabalho permitindo melhor proveito e menos riscos gerais;

 

  • A 50 mm é uma objetiva fixa e de poucos elementos óticos. Isso significa que ela naturalmente possui uma profundidade de campo relativamente ampla, grande.  Por este motivo, em algumas situações em que você esteja buscando, projetando operar com uma profundidade de campo menor com o objetivo de desfocar parte da área anterior e ou posterior da imagem, ainda que suavemente, muito provavelmente você não conseguirá esse tão perseguido e desejado efeito. Vale ressaltar que a opção em trabalhar, ainda que seja em uma situação já prevista, para produzir uma fotografia já planejada, naturalmente requer que o equipamento também seja planejado. Cabe aqui ressaltar que, de maneira geral, quanto menos elementos óticos em um corpo de objetiva, maior será a profundidade de campo obtida na imagem e vice-versa;

 

  • Outro aspecto que deve ser mencionado é que as objetivas fixas, seja a lente 50 mm ou qualquer outra, se destinam a fotógrafos que fotografam em situações onde a distância objeto (distância que compreende o intervalo entre a objetiva o ponto focal da imagem) é muito recorrente, ou seja, em que as fotografias produzidas seguem um padrão técnico e logístico, quase sempre comum. Assim, se esse não for o seu caso, não compre a sua desejada lente 50 mm. Por outro lado, se você é um fotógrafo profissional que produz suas fotos em estúdio, por exemplo, ou ainda que faça fotos de comida em diversos locais externos mas ainda fechados, certamente em algum momento vai precisar não só de uma lente 50 com de tantas outras várias que lhe auxiliarão na busca da fotografia tecnicamente perfeita que você ou um diretor de arte já definiu.

 

Ponto de vista

O que é muito importante frisar, no que se refere comprar essa ou aquela objetiva, é perceber que o maior e mais importante investimento que um fotógrafo deve fazer ao longo de sua carreira ou atividade, reside no fato de buscar entender e qualificar o quão importante, sob o ponto de vista técnico, é o papel das objetivas na obturação da imagem de forma geral. Por esse motivo, é mais indicado possuir boas objetivas em corpos de câmeras mais simples que corpos de câmeras melhores com objetivas de baixa qualidade.

Todas as colocações acima não buscam fazer da objetiva normal – a 50 mm, uma lente ruim, fora de uso. Até porque se a indústria fabrica, é porque vende e se vende é porque alguém precisa usá-la. A nossa intenção é nortear fotógrafos iniciantes, amadores e até profissionais para que seus esforços e investimentos sejam bem feitos e se justifiquem a partir de suas necessidades e desde que feitos balizados em conhecimento. Não se realiza a aquisição de equipamentos caros alicerçado em achismos ou no que é melhor para o outro. Os investimentos devem ser feitos de forma definitiva e à medida do surgimento de uma necessidade concreta. Uma obervação interessante é frisar que as objetivas devem receber maior atenção que os corpos de câmeras e, preferencialmente, evitar a compra de equipamentos de segunda linha ainda que para isso o interessado precise esperar um pouco para adquirir a lente que precisa.

 

Por Edson Gamma

 

Câmera APS-C ou Full Frame?

Uma eterna busca dos fabricantes tanto quanto dos consumidores profissionais e amadores no universo da fotografia digital é a qualidade técnica de imagem. E, um dos elementos do equipamento que está diretamente relacionado com esta qualidade de imagem é o sensor da câmera. Nele estão distribuídos os pixels (picture element). O pixel é a menor unidade de representação de uma imagem digital ao qual é possível atribuir uma cor. A partir da noção do pixel como uma medida de qualidade de imagem, temos como resolução, o produto do número de pixels que um sensor apresenta em sua largura pela altura. Desta forma, quanto maior o número de pixels existente em um sensor, maior será sua resolução e, assim sendo, a qualidade técnica da imagem. Por assim dizer, quanto maior o sensor, maior será o número de pixels que ele comportará. Portanto, quanto maior o sensor, maiores serão as possibilidades de uma câmera fotográfica apresentar, tecnicamente, melhor qualidade de imagem.

A luz refratada pela objetiva de um equipamento terá como destino, sensibilizar o sensor desta câmera, formando assim, uma imagem digital. Como temos a produção de sensores de tamanhos distinto, naturalmente temos câmeras com sensores de tamanhos diferentes. Assim, as câmeras que possuem um sensor cujo tamanho mede entorno de 36 x 24 mm, são identificadas como Full Frame. Por outro lado, há um significativo números de modelos de câmeras que possuem um sensor de menor medida, são os APS-C cujo formato fica por volta de 24 x 16 mm. Como temos dois sensores diferentes, certamente teremos diferenças nas imagens captadas por ambos. Assim, além de diversos outros fatores a considerar na escolha de uma câmera, é necessário que saibamos as diferenças de resultados produzidos por cada um dos sensores acima mencionados.

 

O sensor APS
Também conhecido como sensor “cropado” (24 x 16 mm).

  1. Sua vantagem mais considerável é que seu custo fica bem abaixo que do Full Frame;
  2. Outro item interessante é que o seu tamanho reduzido, facilita o trabalho nos quais desejamos fotografias com maior profundidade de campo;
  3. Sua mais notória diferença, em comparação ao full frame, é a redução do ângulo das objetivas, ou seja, acaba por abarcar uma parte menor da imagem em comparação ao outro. Isso significa que ao utilizar uma lente 50 mm, por exemplo, o ângulo de visão observado corresponderá ao de uma lente 80 mm por conta da necessidade de se aplicar um fator de corte de valor 1,6 a exemplo de uma câmera Canon EOS 6D (50 x 1,6 = 80);
  4. Como são sensores “cropados”, aumentam a distância focal da objetivas facilitando o trabalho de fotógrafos que precisam de teleobjetivas – lentes mais longas;
  5. Os sensores APS também tendem a apresentar mais ruídos que os Full Frames.


O sensor Full Frame
Os sensores maiores, muitas particularidades interessantes como podemos perceber abaixo:

  1. Como são maiores, nos permitem trabalhar com sensibilidades menores visto que são mais sensíveis à luz;
  2. O tamanho das imagens geradas são bem maiores que as cropadas nos permitindo maiores ampliações;
  3. Por outro lado, como são maiores, resultam em imagens com menos profundidade de campo;
  4. Estes sensores não cropam as imagens utilizando exatamente os ângulos que as objetivas originalmente oferecem. Por isso, potencializam o uso de lentes mais curtas;
  5. Todas as lentes utilizadas para câmeras Full Frame, podem perfeitamente, serem utilizadas em câmeras cropadas, mas o inverso não;
  6. As imagens geradas, como são muito maiores, também são mais pesadas demandando não só maior capacidade de processamento com mais espaço para armazenamento;
  7. Também geram imagens com menos ruídos;
  8. As câmeras Full Frame são, potencialmente, mais caras que as APS.


Comentário
Vale observar que não há como  classificar um ou outro tamanho de sensor como o melhor. O mais importante é adequar seu uso para que o produto do seu emprego – a fotografia, atenda seu propósito.

 

Por Edson Gamma

 

O Fotojornalismo – por Alcyr Cavalcanti

Para mim o aparelho fotográfico é um caderno de notas, um instrumento de intuição espontaneidade, senhor do instante que em termos visuais pergunta e responde a um só tempo. Para expressarmos o mundo temos que nos sentir envolvidos com aquilo que descobrirmos no visor. Esta atitude exige concentração, disciplina mental, sensibilidade e senso de equilíbrio geométrico. É pela grande economia de meios que se chega à simplicidade de expressão.

Henri Cartier-Bresson

 

 

O Fotojornalismo é um segmento da fotografia inserido no campo do jornalismo, que está inserido no campo da produção cultural. A noção de campo  para Pierre Bourdieu é o espaço de relações entre grupos com distintos posicionamentos sociais, sendo um espaço de disputas e jogo de poder. O campo jornalístico está inserido no campo da produção cultural e como qualquer espaço de atuação social funciona a partir de uma dinâmica própria, com certa autonomia. É um dos vários subcampos que constituem o campo maior, o da cultura.

No Fotojornalismo o que está em evidencia é o fato, a noticia, e o que importa é transmitir com clareza e eficiência uma determinada informação. “Deste modo foto boa é a foto eficiente” (Milton Guran). Mais do que qualquer outro segmento a fotografia jornalística trabalha principalmente com o momento único, o instante definitivo que não se repetirá. A fotografia como qualquer outra atividade humana deve responder a duas questões básicas: o que fazer, e como fazer. No caso do Fotojornalismo o fio condutor de nossa reflexão é o fato jornalístico, ou seja, a notícia. Devemos sempre buscar a maior eficiência para transmitirmos a informação, ficando em plano secundário os critérios estéticos ou pseudo estéticos, que só serão efetuados se houver condições suficientes. Devemos lembrar que a informação em nosso caso só é boa e eficiente quando transmitida com clareza. A linguagem fotográfica é eminentemente sensorial, impressionando de modo direto o sentido da visão. A fotografia, mais que o texto escrito induz a uma atenção visual e apreensão imediata da informação apresentada. Para Marilena Chauí “a vista é de todos os nossos sentidos aquele que nos faz adquirir mais conhecimentos e descobrir mais diferenças”.

 

 

Das Placas de Vidro à Tecnologia Digital

Nos primórdios fotografar não era uma tarefa fácil. O objeto tinha de ficar imóvel e o próprio fotógrafo tinha de trabalhar com vários ajudantes para carregar os quilos de equipamento. Posteriormente a iluminação era feita com lâmpadas de magnésio, que poderiam causar queimaduras, além de produzir um clarão muito intenso. Era quase impossível obter um flagrante, a essência da fotografia jornalística. Placas de vidro, frascos e drogas eram amarradas nas caixas nos lombos das mulas. O fotografo francês Victor Frond foi um dos pioneiros no Brasil, trabalhou no Estado do Rio entre 1857 a 1859 e utilizou jovens ajudantes locais, e alguns deles vieram a se tornar fotógrafos. A antropóloga Lygia Segala fez tese de mestrado sobre seu trabalho.

Com o tempo as câmeras fotográficas foram diminuindo de tamanho até chegarmos às de 35mm, cujo modelo ideal era a Leica fabricada na Alemanha, com objetivas de alta qualidade e filme com 36 poses. Hoje com a tecnologia digital além de pequenas objetivas junto aos telefones celulares, passa a haver uma massificação da fotografia. No Fotojornalismo, em todo o planeta as câmeras fotográficas reflex de uma objetiva  são as mais usadas, principalmente as marcas Nikon e Canon, ambas japonesas. As câmeras reflex de visor direto de uma objetiva têm o visor ao nível do olho como extensão direta da visão em relação à cena que está sendo registrada. As regras clássicas oriundas da pintura devem também ser usadas, embora tenham sido frequentemente desrespeitadas em nome de uma pretensa pós-modernidade. O bom enquadramento é um recorte da realidade, uma parte do real sempre em movimento, sendo a solução final conforme o ponto de vista do autor (o fotógrafo), sendo um ato de escolha de um momento único  que não se repetirá, que poderá ser imitado mas não igualado, que se estenderá ao direito de autor, sendo o autor o único que poderá decidir sobre o corte quando de sua publicação. Como em toda regra sempre existe uma exceção, no Fotojornalismo às vezes somos obrigados a fazer corte na imagem, pois as fotos podem ter sido feitas em condições desfavoráveis, aparecendo pessoas ou objetos indesejáveis servindo para poluir o quadro, devendo ser eliminados. Devemos lembrar que no Fotojornalismo a fotografia difere do texto escrito, não podendo ser feita novamente. Perdeu o momento perdeu a foto. A escolha do momento é o ponto de maior relevância sendo também aquele que demonstra que a fotografia tem por trás da câmera um autor, que decide o momento, o clique exato. O mundo principalmente nas grandes cidades está em processo de continua mutação, o que irá obrigar o repórter fotográfico a registrar varias cenas em sua câmera, mormente agora com as novas tecnologias e cartões de memória que permitem centenas de imagens. Ele deverá fazer uma seleção, uma edição final eliminando o que não for interessante. É como um rascunho para um texto final. Neste ponto, para publicação em qualquer mídia o resultado final é o que interessa.

A posição do fotógrafo diante da cena é fator de suma importância. Para Robert Capa um dos fundadores da mítica Agencia Magnum “A foto só é boa quando o fotógrafo chegou suficientemente perto”, nesse caso o enquadramento eliminará o que não for interessante, dando destaque ao que for relevante. É o recorte exato da realidade. O enquadramento ideal feito através do visor da câmera é fruto da capacidade do autor em perceber geometricamente as formas que compõem os objetos, usando as linhas, superfícies, luzes e sombras em frações de segundo, no caso de se procurar registrar o instante decisivo. Existem algumas regras básicas como não cortar a cabeça, ou os pés, no caso de se enquadrar o corpo inteiro.  No caso de corte usa-se o que no cinema chamamos “plano americano”, ou seja, um corte pouco acima dos joelhos. Deve-se deixar um pequeno espaço entre o objeto focado e a área útil do quadro possibilitando a ampliação dentro das proporções. As regras do enquadramento seguem as regras das proporções (da pintura) baseadas nos pontos áureos do retângulo, pontos de harmonia, centros visuais deste espaço.

 

 

A Fotografia Jornalística como Documento Histórico

Imagens importantes ficam para sempre, como um retrato dos costumes de uma época. Se examinarmos fotografias de banhistas nas praias cariocas no início do século XX vai chamar nossa atenção diferenças nos costumes, principalmente as mudanças na arquitetura e as transformações nas grandes cidades. Casarios antigos, estilo belle époque deram lugar a imponentes edifícios pós-modernos, onde muitas vezes o vidro é uma constante. Copacabana vista de cima é uma imensa selva de pedra, mais de mil favelas também fazem parte de nossa cidade. A poluição na Baia da Guanabara se assemelha a uma “boca banguela” conforme notou Levy Strauss e desafia os discursos enganosos dos governantes.  Protestos feitos durante o impeachment vão ficar para sempre. Mais do que nunca o Fotojornalismo mostra sua importância, embora alguns jornais tenham se transformado em verdadeiras “fábricas de notícias” onde seus donos e prepostos só visem o lucro, em detrimento da informação, um dos princípios basilares da democracia.

 

Alcyr Cavalcanti – Fotojornalista e Antropólogo